sexta-feira, 29 de outubro de 2010

RUMO AO CASTELO, MAS NUM TRANSPORTE PLEBEU

Antes de ingressarmos numa das últimas publicações desta nossa inesquecível viagem à terra dos aztecas, gostaríamos de nos desculparmos pela ausência de textos neste periodo todo. As férias acabam, a rotina volta ao normal, as atividades corriqueiras nos "engolem" e tudo que está fora dela fica para depois.

Para enfim honrar o compromisso, volto ao teclado com o propósito de em poucos dias concluir esta missão que começou lá no dia 17 de julho, com o primeiro texto.

E este não era dos piores microonibus
No último dia na capital mexicana fomos conhecer o Castelo de Chapultepec, um requintado palácio por onde passaram os principais reis do império mexicano. Como o meu irmão estava sem carro, fomos de microonibus. Lembram dos primeiros posts onde falei do caos do transporte público? Pois é, pior do que ver os coletivos caindo os pedaços é estar dentro deles e sentí-los nesta condição. Não basta ver ou saber do problema, é preciso vivê-lo. Uma verdadeira ação de antropólogo, ou seja, viver o contexto para opinar com mais propriedade. E isso nós fizemos.

Impressionante! Os problemas que vimos antes, trafegando de carro, se confirmaram. Mais do que isso, se agravaram. Levamos quase uma hora e vinte minutos para trafegar de um destino ao outro. Isso que não fomos de ponta a ponta da cidade. Longe disso, os extremos ainda estavam distantes. Viajamos sempre em alta velocidade. As manobras arriscadas são comuns, pois os motoristas têm tempo a vencer e passageiros a arrecadar. Se ainda estivéssemos de cinto de segurança, vá lá, mas que nada, este é um artigo de luxo no transporte coletivo da Cidade do México. Para piorar, os assentos não são perfilados, cujo o banco da frente poderia servir de apoio ou parapeito numa colisão ou  freada desavisada.


Sentam quatro passageiros neste assento

Imagine uma Kombi sem bancos. Depois, coloque-os nesta mesma Kombi encostados no perímetro interno do veículo. São quatro bancos, de três lugares cada, encostados sobre os lados internos do coletivo. Você escolhe, pode viajar de frente, de lado ou de costas. Retificando: não dá muito para escolher, tem que sentar onde dá. E engano seu se chegou a pensar que depois dos 12 lugares ocupados param de entrar passageiros. Eles vão entrando e você tem que dar o ladinho, abrindo espaço no assento. O apoio se dá em cada freada, arrancada ou ultrapassagem, e é feita no companheiro ao lado. Não se preocupem, apesar do aperto é possível respirar, pois há vários vidros quebrados por onde puxamos o pouco do oxigênio que circula. 

Depois que o passageiro desce, o motorista fecha a porta de correr puxando-a por uma corda, como nos velhos tempos porto-alegrenses nos táxis fuscas sem o banco da frente, lembram?

A curiosidade maior fica por conta da cobrança da tarifa. Como a Cidade do México é muito grande, não é justo cobrar o mesmo valor para todos os passageiros. Portanto, o valor da passagem é fixado de acordo com o bairro no qual você sobe no coletivo. E não pensem que tem um ticket que indique isso. É tudo na palavra. O passageiro grita que quer descer e na sequencia avisa mais alto ainda de que bairro veio. Legal, uma forma de mostrar que se acredita nas pessoas.

Observem minha fisionomia de satisfeito com a situação
Mais honesto ainda é ver o passageiro que está bem atrás dar o dinheiro para o passageiro do lado, que vai passando para o seguinte e assim por diante, até chegar ao motorista. O condutor recebe o dinheiro e se houver troco manda-o de volta percorrendo todo o trajeto inverso. Pior que constatamos que funciona bem. A Mara fez um comentário: "agora sei por que a Gripe A se propagou tanto no México". E o meu irmão ficou imaginando a mesma situação no Brasil, onde você alcança o dinheiro para o passageiro ao lado, ele desce na parada seguinte e leva o seu dinheiro embora.

É, culturas e culturas. Seria cômico se não fosse trágico. Verificamos uma condição subumana, sem higiene e a mínima segurança.  Muito triste isso. Estávamos indo conhecer um lugar da nobreza mexicana dentro de um transporte público caótico. Ficou nítido que o país involuiu economicamente. O contraste mostra a fragilidade social em que o país está envolto. E lamentável observar que já virou algo normal entre os mexicanos. Enquanto fizemos este percurso tomados pela tensão, muitos estavam tranquilos. Alguns inclusive ouvindo música, com os fones de ouvidos certamente levando-os para outro mundo, sonhando com dias melhores. Mas como chegamos são e salvos, valeu a pena ver por dentro, com os nossos próprios olhos, o que já havíamos visto por fora. E pensar que há países piores.

Breve, muito breve, a visita ao Castelo de Chapultepec.

Grande abraço!

Luciano Gasparini Morais

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

NO MEIO DO CAMINHO FICARAM ALGUMAS PEDRAS

O retorno à Cidade do México foi feito de ônibus. Saímos de Xalapa Enriquez às duas horas da madrugada do dia cinco de agosto, quinta-feira, e chegamos ao Distrito Federal por volta das sete da manhã. No entanto, antes disso, a noite de quatro de agosto foi toda preenchida pela arrumação das malas, pela revisão de todas as coisas para não esquecer de nada e por despedidas. Dania e Iara estavam dormindo, só deu tempo para selar um silencioso beijinho para não acordá-las. E antes de partirmos, um demorado e apertado abraço na minha cunhada, uma pequena forma de carinho e agradecimento por toda a hospitalidade, incansavelmente desprendida durante 13 dias. Aliás, queremos agradecer imensamente ao meu irmão e à Danny por toda a boa vontade, quase que diária, em nos levar a todos os lugares possíveis mesmo tendo duas crianças de poucos meses para cuidar. Nem os dias de chuva ou de sol intenso foram empecilhos para que deixassem de nos guiar a vários e belos lugares, que tivemos o privilégio de conhecer. E como toda despedida, antes de adentrar ao táxi que nos levaria à rodoviária, algumas lágrimas serviram para ilustrar o adeus.

Cabeça Colossal nº 5. 1200 - 1000 A.C
Antes do regresso à capital, o último passeio em terras xalapeñas. Um rápido giro pela rodoviária foi o suficiente para perceber o ambiente limpo, moderno e os ônibus de primeira linha. E como todo lugar mexicano tem um resquício da história, mais uma oportunidade de conhecer um pouquinho da Era Pré-Colombiana. Na Rodoviária de Xalapa tem exposta uma das 10 Cabeças Colossais, esculpidas pelos Olmecas em pedra de basalto. As esculturas variam entre 1,47 e 3,4 metros e as maiores pesam mais de 20 toneladas.

Os Olmecas foram os povos que habitaram o México Antigo aproximadamente no ano 2.000 A.C. e se desenvolveram justamente no Estado de Vera Cruz, onde tivemos a oportunidade de estar. E para finalizar, compramos alguns suvenirs característicos da cidade e embarcamos, mas não sem antes nos darmos conta de que esquecemos as pedrinhas e as conchinhas que o Gian havia separado para a vó Maura. Ela havia solicitado a ele que, no retorno ao Brasil, a presenteasse com uma pedrinha de cada lugar que ele fosse. E ele atendeu o pedido a risca. Ao menos parte do pedido foi atendida, o de separar as pedrinhas. Ele ficou muito sentido e chorou ao perceber que todo o esforço e as lembranças ficaram para trás.

Na terra do Chaves um encontro com o Homem-aranha

A viagem de quase cinco horas de ônibus foi relativamente tranquila. Chamou atenção o zelo e a atenção do motorista ao dirigir. Entre uma piscadela e outra dava para perceber a condução segura e o andar macio do ônibus pela rodovia. Os guris dormiram a viagem toda no banco do lado, mas estendidos sobre o meu colo e o da Mara. O meu irmão parece que teve um bom sono. Era possível vê-lo cochilando no outro lado do corredor. Chegamos à Cidade do México pela Rodoviária Norte (há duas na Cidade), mais próxima a casa do amigo Enrique (ou Enri como é carinhosamente chamado), onde ficaríamos hospedados na última diária em solo mexicano. Sexta-feira, portanto no dia seguinte, seria o embarque para o Brasil.
 
Clark "Pancho" Kent em ação
 Não havia mais tempo a perder, pois ainda queríamos conhecer o Castelo de Chapultepec. Pegamos um táxi e percorremos os aproximadamente 40 quilômetros que separam a Rodoviária Norte da casa de Enri, pois tínhamos que largar as bagagens. Às sete da manhã o trânsito já era intenso e a poluição ambiental visível pelas cores turvas diante dos olhos. E voltamos a sentir os efeitos da altitude, pois novamente subíamos aos 2.235 metros da Cidade do México.
  
Enri e a esposa Mônica se preparavam para um dia normal de trabalho. Ambos trabalham juntos e gerenciam uma agência de comunicação. A afinidade de áreas fez com que engatilhássemos alguns trabalhos juntos. Tomara que assim seja. São ótimas pessoas e penso que bons parceiros para uma exitosa atividade profissional. Eles têm um filhinho chamado Francisco e de apelido "pancho", muito simpático e fã incondicional do Homem-aranha. Portanto, ficamos super protegidos na casa deles. Fica aqui um agradecimento especial por terem aberto as portas de casa e da geladeira para nos receberem. Percebemos que estavam chateados por não poderem nos dar a atenção que gostariam, mas entendemos perfeitamente por ser um dia de semana, portanto de trabalho para todos e de passeio apenas para nós. Em troca da cortesia, já foi feito o convite para que venham ao Brasil durante a Copa de 2014. Assim como a deles, a nossa casa também estará de portas abertas para recebê-los. Será um prazer hospedar o Homem-aranha em nossa residência.

Luciano Gasparini

domingo, 12 de setembro de 2010

FAMÍLIA ESQUISITA: cabelos em pé, anões e faquir com gesso

O dia 04 de agosto marcou o nosso último dia em Xalapa. Estava se aproximando o dia do retorno ao Brasil, mas antes fomos conhecer o MIX (Museu Interativo de Xalapa). A propósito, muito parecido com o Museu de Ciência e Tecnologia da PUC-RS, em Porto Alegre. O MIX apresenta formas criativas de mostrar fenômenos e conceitos relacionados com ciência, arte e cultura. Dentre eles, descrevemos abaixo aqueles que mais gostamos:

As pontas são tão inofensivas quanto assustadoras
Cama de cravos: o Lú fez as vezes de faquir e deitou sobre uma cama de pregos bastante afiados. O segredo está na grande quantidade de pontas, pois o pouco espaço entre os pregos torna a superfície plana e, portanto, inofensiva.

Cabo de guerra: uma corda apoiada em roldanas, onde num dos lados é necessário fazer muito mais força para equilibrar com o(s) oponente(s). Nesta "brincadeira", o Gian e o Cris ganharam do Luciano de barbada. Ao final, o Cris largou a corda e o Lú caiu sentado.

Bolhas gigantes de sabão: numa banheira com água, sabão e argolas de aço inoxidável, de quase um metro de diâmetro, era possível criar bolhas de sabão imensas que até mesmo encobriam o Cristian.

Anões gremistas visitam o Museu Interativo
Espelhos côncavos e convexos: esta foi a grande sensação, o experimento que os meninos mais gostaram, pois os espelhos refletiam imagens distorcidas. Ora ficávamos muito magros e altos e ora baixos como se fôssemos anões. Para eles, uma grande novidade.

Tocando bateria virtual: O Lú e o Cris formaram uma dupla de sucesso, tal era a empolgação na bateria. Sinceramente, os adultos estavam mais empolgados que as crianças neste experimento virtual! Assista o vídeo da dupla Cristian & Luciano, dissidentes das duplas Zezé di Camargo & Luciano e Christian & Ralf.

Contradição: sorriso no rosto e cabelos em pé
Cabelos em pé: Eu fiquei tonta com este experimento  de eletricidade estática. Através do vídeo é possível observar que eu ficava em pé e com as mãos sobre uma esfera metálica. Ainda balançava a cabeça para os dois lados (gerando energia), enquanto meus cabelos iam ficando literalmente "em pé". Mas a surpresa maior foi no final. A monitora estendeu o dedo indicador pedindo para que eu a tocasse. Quando encostei meu dedo no dela se formou um raio entre nós e levei um tremendo choque. Que susto!

Cobras: Havia muitas espécimes animais representativas do estado de Vera Cruz. Entre os seres vivos em cativeiro encontramos cobras e iguanas. Os guris gostaram das cobras. Às vezes havia mais de uma no mesmo viveiro e enroladas. Por causa das cores camuflantes era difícil distinguir uma da outra. E veja como os guris ficaram muito impressionados com a força de uma pequena cobra que subia sobre um galho.
 
Luciano: "A primeira e última vez sobre patins"
Patinação no gelo sintético: Quando meus três meninos viram a pista de patinação no gelo ficaram enlouquecidos, já vislumbrando a real possibilidade de estrearem neste esporte. Para mim, as "regras" - vindas de surpresa - vieram a calhar como desculpa para não me arriscar neste esporte tão radical. Mas meus corajosos foram empolgadíssimos para o "ringue", com os novos equipamentos. Os pequenos nem quiseram muita orientação: em poucos minutos já estavam arriscando seus passos sozinhos e caindo muitos tombos, e levantando, e caindo de novo. O Lú, mais inseguro e interessado nas orientações técnicas, ficou todo o tempo com o instrutor ao lado e demorou para se aventurar na pista. Conforme mostra o vídeo, mal sabiam dar os "primeiros passos" e o Lú aceitou um convite do Gian para uma corrida de ponta a ponta. Adivinhem? Caiu um tombo. E, diferentemente das crianças, caiu mal. O resultado: depois de 15 dias com dor no braço, já em Porto Alegre, foi consultar um ortopedista. Através da ressonância magnética soube do esmagamento de uma cartilagem e do estiramento do ligamento do pulso esquerdo. Tratamento de 21 dias de imobilização com gesso, mais dez sessões de fisioterapia. 

Lembram que os guris se tornaram anões diante do espelho? Pois é, parece que não voltaram mais ao tamanho normal. Tudo ao redor se tornou gigantesco diantes dos pequeninos gremistas.

Na verdade, não só para eles. O relógio se apressou e devorou os nossos dias. O tempo passou depressa e a estadia na cidade do Museu Interativo chegou ao fim.  Os 12 dias em Xalapa Enriquez ficarão para sempre nos nossos corações. Assim como alguns acessórios do Museu, as lembranças deste período se agigantarão para sempre na nossa memória.

O entardecer se aproximou. Era  hora de ir para casa arrumar as malas, pois às duas horas da madrugada, de quarta para quinta, o nosso ônibus partiria para a Cidade do México para mais passeios e aventuras antes de voar rumo ao Brasil.

Mara Antonia e Luciano Gasparini

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SAUDADE DO BRASIL

Em determinado momento da nossa viagem, a Mara comentou que as aves mexicanas cantam diferente. E, em tom de brincadeira, eu dei início aos versos do poema Canção do Exílio escrito pelo maranhense Gonçalves Dias, primeiro grande poeta do romantismo brasileiro.

Alguns lugares nos levaram às raízes
 "Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá. As aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá".

Talvez estas estrofes não tenham sido lembradas por acaso. Quem sabe vieram à mente, de forma inconsciente, como indícios da minha saudade da nossa Pátria Amada, Idolatrada, Salve, Salve!!

Há 14 dias no México, a saudade começa a bater em todos nós. Por melhor que tenhamos sido recebidos (e fomos exemplarmente recebidos), o churrasco, o chimarrão, a nossa cidade, a nossa casa, o nosso idioma, os nossos parentes e amigos, enfim, toda a nossa estrutura social e psicológica começam a fazer falta. O Cris, no alto dos seus cinco anos de idade, dá mostras dessa ausência: "Pai, um dia nós vamos voltar para o Brasil, né?", questionou saudosamente.

E para suprir um pouco desta ausência, um novo encontro entre brasileiros. Desta vez na casa do amigo e chefe de cozinha internacional, Alexandre Marcelino. O convite já havia sido feito dias antes. Estávamos ansiosos para degustar a macarronada que disse que prepararia. O encontro foi na chuvosa terça-feira, 3, mas acalorada pelo carinho e bom humor dos amigos brasileiros.

Pico de Orizaba: 5610m de altura cobertos de neve
Antônio (brasileiro) e Rosy Elena (mexicana) também estiveram presentes. Tivemos ótimos diálogos sobre o Ceará (Estado do qual Antônio é natural), sobre o futebol brasileiro. Enfim, falamos sobre as coisas do nosso Brasil. Foi, também, uma oportunidade para trocarmos algumas fotos, por celular, de lugares próximos, os quais não conseguimos visitar, como por exemplo, o Pico de Orizaba, a mais alta montanha do México, a terceira da América Central e o vulcão mais alto do hemisfério ocidental. Atualmente encontra-se adormecido e a última erupção foi em 1687.

Encontro de sete brasileiros e quatro mexicanas
Os guris aproveitaram bem. Conversaram bastante com Dania e Iara, jogaram vídeo-game e "limparam" a bomboniere repleta de balas de chocolate. Como "prêmio", Marcelino os presenteou com uma bola de futebol com as bandeiras do Brasil, Itália e Espanha. Um regalo para levar ao país do futebol e lembrar destes doces momentos em solo mexicano. E nós, adultos, nos lambuzamos de tantos comer o delicioso macarrão, maravilhosamente bem preparado pelo anfitrião, acompanhado de uma igualmente deliciosa salada verde com tomate, cebola, azeite de oliva e vinagre balsâmico. E para impulsionar a degustação, um vinho também oferecido pela casa.

Foi um belo encontro. Que pena que foi o último, pois ainda tínhamos alguns lugares para visitar.
Mas estávamos a três dias do embarque de volta ao Brasil e começávamos a sentir que  "o nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores". Sabias palavras de Gonçalves Dias.

Luciano Gasparini Morais

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ESTOY BORRACHO

Entre nós (da esq. p/ direita), Angel, Ramsés e Salvador
"Petbol" internacional

No dia 25 de julho, à noite, fomos conhecer Coatepec, que fica a oito quilômetros ao sul de Xalapa. Coatepec, na linguagem náhuatl significa cerro das serpentes, descrição que os antigos povos indígenas usaram para batizar a fertilidade desta terra, já que a serpente representa a deusa da terra e da fertilidade. A arquitetura de Coatepec mostra bastante a colonização espanhola. E foi na praça principal desta simpática cidadezinha que degustamos deliciosos cachorros-quentes e presenciamos o duelo Brasil x México, com larga vantagem para o Brasil. Mas, como era um amistoso, após a partida de Petbol (na falta de uma bola se improvisou um futebol jogado com garrafa pet), tiramos uma foto ao lado dos novos amigos mexicanos.

O Cris pingando picolé de manga na Dania
Refrescando a cabeça

No dia 02 de agosto, segunda-feira, fomos a Jalcomulco (distante 30 km de Xalapa e 22 km de Coatepec). Cidade de quase cinco mil habitantes e famosa por sua beleza natural. Beleza natural que impulsiona o ecoturismo onde muitos se aventuram em esportes como o rafting, mountain bike, rapel e tirolesa. Como estávamos com as crianças e ainda pretendíamos visitar a cidade de Xico, distante cerca de uma hora, e o percurso do rafting durava 1h30min, decidimos abortar a missão.

Tomamos um picolé na praça, da qual se tem ângulo suficiente para avistar a igreja, a prefeitura e a escola, depois seguimos viagem para Torito, ops, para Xico (se pronuncia Rico). É que o Lú estava tão a fim de tomar os toritos, bebida alcoólica típica e famosa da cidade de Xico, que trocou os nomes (risos).



Xico conta com forte presença da arquitetura espanhola

Cadê o torito?

Chegando em Xico, antes de sairmos à caça dos famosos toritos, passeamos pelas ruas de pedra que evidenciam a arquitetura espanhola e degustamos os moles xiqueños (uma pasta com pimenta).

No mês de julho se comemora o festival dedicado à Maria Madalena, padroeira da cidade. Neste período, os turistas podem degustar mais intensamente a culinária típica da região e também assistir à pamplonada, evento no qual soltam touros na cidade e os corajosos (ou inconsequentes) fogem desafiando a vida.

Cascata de Texolo é grande atração de Xico
Antes de deixarmos a cidade fomos conhecer a Cascata de Texolo, uma cachoeira de 80 metros de precipitação sobre um barranco de exuberante vegetação. Por causa da beleza natural o local é considerado um dos principais pontos turísticos do Estado de Vera Cruz, inclusive sendo cenário de algumas produções cinematográficas internacionais. Durante o trajeto que nos leva até as águas da cascata, avistamos muitos pés de café, já que Xico é parte integrante de uma grande região cafeeira do México. E a presença dos grãos de café é observada até mesmo nos trabalhos artesanais vendidos no complexo da cascata, como por exemplo terços, colares, pulseiras, entre outros adereços.

"Prohibido borrachos"
Estávamos quase deixando o município e eu decepcionado por não termos encontrado uma  aceitável variedade do tal do torito. Até que na via que nos leva à Cascata de Texolo fomos interceptados por quase uma dezena de ávidos vendedores que apareceram por todas as janelas do carro nos oferecendo a artesanal bebida em infindáveis sabores: côco, café, amendoim, morango, piñon, guanábana, entre outros. Para simplificar e explicar a quem não sabe, o torito é uma cremosa, doce e alcoólica bebida com o real sabor do fruto, uma espécie de licor. Eram tantos os oferecimentos e sabores para degustação que cada um de nós ficou com as mãos cheias de toritos, até que o meu irmão, com vários copinhos entre os dedos, disse em tom de brincadeira: "llega, por favor. Ya estoy borracho". Todos caímos na risada e seguimos alegres para conhecer a cascata.

A presença de turistas atrás dos toritos é tão grande que a administração do município foi obrigada a criar uma sinalização para manter a ordem nas praças. Veja a foto ao lado.

Foi um belo passeio por Coatepec, Jacolmulco e Xico, que lembram muito a Serra Gaúcha, pois a todo momento observamos lindas paisagens naturais em meio a morros e vales e tudo regado a gostosos e variados produtos gastronômicos coloniais.

Até amanhã teremos um novo post. Grande abraço a todos.

Luciano Gasparini e Mara Antonia.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

COM A BÊNÇÃO DE DEUS

Enfim chegou o domingo, 1º de agosto, o dia que marcou o principal motivo da nossa ida ao México: a apresentação das nossas meninas à igreja evangélica.

Alguns de vocês devem estar se perguntando por que chamamos apresentação e não batismo?

Um inesquecível momento marcado pela simplicidade
Segundo à Igreja Evangélica Assembléia de Deus, da qual o meu irmão é pastor,  o batismo é feito em águas e somente para aqueles que confessam Cristo como salvador.  E considerando que as crianças ainda não chegaram à idade da razão, ou seja, não podem decidir por si e fazer esta confissão, o batismo só é feito na idade adulta.

Portanto, fomos convidados para padrinhos da Iara, mas neste momento apenas para estarmos presentes à cerimônia na qual as meninas são apresentadas à comunidade evangélica e recebem as orações para uma vida com muita fé em Deus e regida fundamentalmente pelo evangelho.

Dindas Rosy Elena (mexicana) e Mara Antonia (brasileira)
Eu e a Mara tivemos uma educação católica, mas nunca fomos muito praticantes. Eu havia participado de apenas um culto evangélico quando do casamento do meu irmão em 1991. E a Mara jamais havia estado numa igreja da Assembléia de Deus.

O encontro foi uma grata surpresa. O templo em que aconteceu a cerimônia é extremamente simples, assim como as pessoas que as frequentam, e o pastor Moisés é uma pessoa absolutamente fraterna e humilde. Gostamos de estar entre todos.

O momento da apresentação foi emocionante. É gratificante viajar quase 10 mil quilômetros e vê-las bem, com saúde, queridas por todos e recebendo as bênçãos de Deus. Iara e Dania comportaram-se como sempre: tranquilas e sorridentes. Dania até adormeceu, tamanha era a tranquilidade.

Tradução simultânea

O pastor Moisés proferia as palavras religiosas em espanhol e, simultaneamente, o meu irmão ia traduzindo-as para o português. Mais do que uma iniciativa de intercâmbio cultural ou linguistico, um gesto simpático para o bem da integração entre Brasil e México, que já é ótima. Todos os fiéis mexicanos estavam atentos e curiosos por aquele instante inusitado. Portanto, por um motivo ou por outro, por emoção ou por curiosidade, aquele foi um momento especial para todos.

Marcelino e Luciano com as afilhadas Dania e Iara
Eu e a Mara somos os padrinhos de Iara. Os amigos Alexandre Marcelino e Rosy Elena os padrinhos de Dania. Pelo que vimos neste período em que estivemos convivendo com eles, as meninas estão em boas mãos. Além da dedicação e dos ótimos exemplos paternos que o Jú e a Danny têm dado, os padrinhos, com certeza serão boas referências de ética, conduta e religiosidade.

Queremos agradecer ao meu irmão e a minha querida cunhada (agora compadres) o imenso carinho. Mas, sobretudo, por terem nos confiado a tamanha responsabilidade de sermos os "segundos" pais das meninas. Podem estar certo que estaremos sempre orando e, na medida do possível, apesar da distância, intercedendo positivamente na educação delas.

Luciano Gasparini Morais


sábado, 21 de agosto de 2010

ENCONTRO "BRAZUCA" NO MÉXICO

Diariamente, dezenas de brasileiros desembarcam ilegalmente no México com o objetivo de cruzar a fronteira com os Estados Unidos na busca de uma nova vida na terra do Tio Sam. No entanto, fiquemos com os números oficiais. Segundo o último relatório do Ministério das Relações Exteriores, elaborado em setembro de 2009, 18,8 mil brasileiros vivem de forma legal em território mexicano. Tivemos o privilégio de conhecer dois deles e que se tornaram bons amigos.

O primeiro, Alexandre Marcelino, carioca de origem humilde e que há sete anos, na companhia da filha pequena e da esposa então grávida, rumou para o México com a promessa de uma vida melhor no ramo de atividade que escolheu: a culinária. O casamento ruiu diante das dificuldades impostas pela necessidade de adaptação a um país de cultura e alimentação totalmente diferentes da nossa. Mas a profissão vai relativamente bem, obrigado!

Hoje, a ex-esposa mora na Cidade do México com as duas filhas. Marcelino, ou Marce, como é carinhosamente chamado pelo meu irmão, vive em Xalapa e é um premiado chef internacional de cozinha de um conceituado restaurante brasileiro da cidade. Marce tem aquele jeito brincalhão característico do Rio de Janeiro, mas não mede esforços para tratar bem os amigos e de estar, carinhosamente, na companhia das filhas nos dias de folga. Como eu já havia comentado, está há sete anos no México. Porém, durante este período, nunca conseguiu dar uma escapada à Terra Natal. "No ano que vem, eu vou de qualquer maneira. Sempre tem uma coisa ou outra que me impede. Ou é dinheiro, ou é doença, ou é trabalho. Desta vez eu vou sem falta", desabafou com o tom de uma impiedosa saudade.

O segundo não é carioca. O assessor nas áreas de mecânica industrial Antônio Arlindo tem as mais evidentes marcas cearenses. A cabeça chata, a pele morena e a fala mansa aparentando uma tranquilidade absoluta do tamanho da generosidade do coração entregam sua naturalidade. Também não sabe o que vai fazer para agradar. Antônio vive no México faz aproximadamente quatro anos. Largou tudo por causa de um amor mexicano. Mais uma história de quem se conhece pela internet. A esposa mexicana Rosa Elena parece que se integrou totalmente aos hábitos brasileiros. Compreende a tudo e a todos. Participa de todos os encontros entre os amigos brasileiros. Porém, ainda não arrisca falar em português. Hoje, ambos vivem harmoniosamente em Xalapa.

Tivemos a oportunidade de conhecê-los num jantar que o meu irmão preparou para cantarmos parabéns e apagarmos a velinha de Marcelino, que completava mais um ano de vida. O jantar foi um simples arroz com feijão, umedecido por um guisadinho de cenoura. Um cardápio tipicamente brasileiro para esquentar uma reunião de brazucas em terras mexicanas. Pena que o trabalho absorveu tanto Marce, que ele chegou perto da meia-noite. Danny, as meninas, o Gian e o Cristian já estavam dormindo. Então, um novo encontro foi marcado. Um almoço comemorativo no domingo, no restaurante de Marcelino, para celebrarmos o que seria a apresentação das nossas sobrinhas à comunidade evangélica, na igreja.

Como é bom encontrar brasileiros em terras "estranhas". A saudade do Brasil fica minimizada. A gente se sente em casa. A aproximação, o abraço, o carinho, as saudáveis brincadeiras brasileiras, não há igual em nenhum outro lugar do mundo. E que Deus abençõe e ilumine estes dois amigos, dois filhos brasileiros espalhados pelo mundo em busca de um melhor lugar ao Sol.

Luciano Gasparini

domingo, 15 de agosto de 2010

A VESPA MEXICANA ARDE MAIS A QUE PIMENTA

Conhecendo a praia

Na quinta-feira, 28, fomos conhecer Martinez de la Torre, a cidade natal da Danny, mãe das nossas lindas sobrinhas. As meninas também nasceram em Martinez, pois lá tiveram a assistência da avó materna Katy e do bisavô Juan, que residem no município.

Segundo o Censo de 2005, o último no país, Martinez de la Torre conta com aproximadamente 100 mil habitantes. O município está localizado a 160 quilômetros de Xalapa e a 350 da Cidade do México. É uma localidade tipicamente interiorana, na qual se observa muito aquele hábito das pessoas ficarem até tarde sentadas em cadeiras de praia à beira da calçada. Legal saber que, apesar da violência que assola parte da população mundial, ainda existem lugares assim.

Também chamou atenção o clima extremamente quente e seco. Saímos de Xalapa com uma temperatura amena, inclusive com o céu encoberto. Chegamos em Martinez e nos deparamos com um calor escaldante, com temperatura quase batendo nos 40º C. Tivemos que dormir com ventilador ligado.

O deslocamento pela serra é mais curto, mas por motivos óbvios optamos pela rodovia que costeia o litoral. Ao longo da estrada uma curiosidade: as placas que indicam o nome das localidades carregam consigo também o número de moradores. Observe na foto ao lado que aparece 23 habitantes para Boca Andrea. Passamos por um lugar no qual a placa mostrava dois habitantes, mas não deu tempo de fotografar.

Os guris estavam ansiosos. A todo momento perguntavam se estávamos perto da praia. Finalmente chegamos ao balneário Costa Esmeralda para conhecermos as águas mornas do Golfo do México. Porém, antes de nos banharmos tomamos o restaurante Paraíso Escondido como paradouro. Durante a refeição, nosso cardápio primou por frutos do mar regados pelas apimentadas iguarias locais.

Enquanto as cozinheiras montam os pedidos dos clientes, uma equipe vai separando, cortando e preparando os ingredientes. Fomos acompanhar de perto. É algo exótico para quem não vive numa região litorânea como nós. Infelizmente, presenciamos o dilacerar de um polvo. E naquele momento nos questionamos se não se tratava do polvo Paul, o vidente molusco alemão da Copa da África do Sul.

Inventei de mergulhar alguns camarões empanados num molho de pimenta achando que era catchup. O resultado disso foi uma forte interferência na flora intestinal e algumas visitas noturnas ao banheiro. No dia seguinte tive que me auto medicar com muita água e quantidade zero de açúcar e alimentos gordurosos. Depois fiquei bem.

Este trecho da praia onde fica o restaurante não é propício para banho por causa da grande quantidade de cascalhos. No entanto, o espetáculo sonoro no qual o mar leva e traz as pedras é muito bonito. Ouça-o.

Tivemos que caminhar vários metros até encontrar um lugar seguro para deixar os guris brincarem na água. O banho foi mais breve do que gostaríamos (ainda tínhamos um bom percurso a percorrer até Martinez), mas o suficiente para sentir a agradável temperatura da água e para observar que o mar do Golfo é mais salgado que o do Atlântico.

Uma picadura inesperada

Depois de salgarmos o corpo e enchermos a barriga seguimos a nossa viagem. Durante o trajeto fui me abaixar para pegar uma garrafa de água no interior do carro e sobre a minha barriga, entre um pneu e outro, havia uma vespa. Imaginem o que a danada fez. Deu-me uma ferroada de fazer esquecer a ardência da pimenta mexicana mais picante que eu já havia experimentado. Passaram-se 17 dias e ainda estou com a marca causada pelo raivoso animalzinho. Na verdade eu até entendo, pois foi apenas um golpe de defesa diante do atropelo que cometi, esmagando-a com os meus dois pneus abdominais.

No dia seguinte, ainda em Martinez, fomos conhecer a família do Miguel, tio avô da Iarinha e da Dania. Foram extremamente receptivos conosco e solidários com a minha disfunção intestinal. Deram-me um medicamento ruim no gosto, mas eficaz na ação. A partir de então cessei as minhas idas ao banheiro.

Tivemos conversas muito proveitosas com o tio Miguel. Falamos sobre futebol, economia, famílias, idiomas, políticas de Brasil e México, entre outros assuntos. Enfim, um agradável intercâmbio cultural.



Regressando à Costa Esmeralda

No início da tarde do dia 29 deixamos Martinez de la Torre em direção à zona arqueológica de El Tajin (visita já contada em outro post), depois fomos saciar a ansiedade dos guris de finalmente se dedicarem mais atentamente à praia.

Foi uma tarde bastante agradável. Uma nova oportunidade de degustar as delícias da gastronomia local, de jogarmos futebol, de comprarmos baldinhos, do tio Jú brincar na areia escura com os sobrinhos, de pularmos as calmas ondas e de, juntos com os guris, catarmos as conchinhas de Costa Esmeralda.

O choro ininterrupto das meninas era sempre o aviso de que já era final de tarde/início de noite e mais do que isso, era hora de irmos embora. E foi o que fizemos. Quase à luz da lua e trombando nos caranguejos que começavam a se movimentar pela praia, limpamos as pazinhas, baldinhos, tomamos banho nos chuveiros do restaurante à beira da praia e voltamos para Martinez. Era preciso descansar e nos prepararmos para as aventuras de um novo dia.

Grande abraço!!

Luciano Gasparini Morais

sábado, 14 de agosto de 2010

PIMENTA NO DOS OUTROS É COLÍRIO

Certo que o post sobre a culinária mexicana sobraria para mim! Meu interesse se estendeu além da apreciação do sabor. Chamou-me a atenção o cheiro dos alimentos, os aspectos nutricionais, os horários das refeições e a forma peculiar do mexicano comer. Infelizmente, 18 dias foi o exíguo tempo que tive para saborear alguns deliciosos pratos mexicanos - e outros, nem tanto (risos).

As tortillas de milho (maiz) são a base da alimentação mexicana - junto com a pimenta (chili). A tortilla é feita também com farinha de trigo, mas é menos usual. No México, a tortilla de milho existe há pelo menos 2500 anos. Hoje, além de muito consumida e apreciada, os órgãos do governo divulgam, em outdoors espalhados pelas cidades, os principais aspectos nutricionais da tortilla. Entre eles, a tortilla de milho tem seis vezes mais fibra que uma xícara de arroz e três vezes mais ácido fólico que uma xícara de espinafre. O cheiro e o sabor da tortilla de milho são bem característicos, mas passam longe do milho que conhecemos no Brasil, este último de sabor mais adocicado.

Vários pratos são elaborados com as tortillas como tacos, quesadillas, burritos, entre outros. O recheio é geralmente carne, frango (pollo), salsichão (chouriço), linguiça (longaniza), feijão (frijol), ovos (huevos), e também cebola, tomate e pimentão. E claro, muitos molhos de pimenta.

Noutro dia fomos numa taqueria, onde pudemos observar a preparação dos tacos: numa grande frigideira, havia frango, salsichão, linguiça e tripa, todos banhados em gordura, prontos para serem servidos nas tortillas.

Em revistas e jornais, fomos informados que o índice de obesidade e diabetes no México são altíssimos, figurando entre os maiores do mundo, afetando inclusive a população infantil. E observamos, in loco, que há realmente muitos mexicanos obesos.

O cuidado com a higiene dos alimentos não é o forte dos mexicanos: uma prova disto eram as bancas que vendiam frangos na beira das calçadas. Mas numa coisa me senti ä vontade: por aqui é comum as pessoas comerem com as mãos!

Creio que o fato de as tortillas terem tanta fibra, faz com que as pessoas tomem muito líquido. Mas se você chegar na casa de um mexicano e pedir uma água, não se surpreenda ao receber uma água de jamaica, ou água de tamarindo. Se quiser mesmo tomar uma água, peça uma "'agua simple".

No México há mais de 300 tipos de pimentas (algumas mais leves, outras mais "picosas"). E elas estão presentes em todos os alimentos - alguns inimagináveis para brasileiros tão pouco afeitos a este alimento que é um rico anticoagulante natural. O Gian experimentou um docinho de tamarindo - cheio de pimenta!! Depois foi a vez do Cris experimentar um pirulito (paleta) com pimenta. E, cada vez que íamos comprar um salgadinho de pacote, tínhamos que pedir: "sin chili, por favor". E lá no cantinho da prateleira tinha um único tipo de salgadinho sem pimenta. Aprovamos o sorvete com molho agridoce de pimenta, mas a Michelada (cerveja com sal, limão e pimenta) foi totalmente reprovada por mim e pelo Lú. No mercado nos chamou a atenção um salsichão verde, repleto de pimenta.

Outro alimento apreciado no México é o amendoim (cacahuate), utilizado na fabricação de sorvetes, picolés, bebidas, pastas, entre outros. Alguns são importados dos Estados unidos.
Na visita a Coatepec, uma cidadezinha bem rústica próxima a Xalapa, comemos um hotdog com salsicha enrolada em bacon (tocino) e com abacaxi (piña) e um molho muito saboroso. Tive que comer dois!!

As batatas fritas (papas fritas) são muito boas e tem em todo lugar, assim como os ovos, que podem ser preparados de diversas formas: fritos (estrellados), mexidos - e misturados com presunto defumado (jamón), queijo (queso manchego) e bacon (tocino).

Há frutas típicas bem saborosas: a tuna (retirada de um cactus chamado Nopal), tem a aparência de um kiwi descascado e é bem doce e suculenta. Pena que tenha tantas sementes. Também há o tamarindo - bastante usado em sucos, mas pode ser comido in natura; por ser meio azedinho, fica gostoso quando envolto em açúcar. Os vendedores de melancia (sandía), na maior cara-de-pau, costumam pintá-las de vermelho para expor nas bancas.

Quanto às bebidas, a melhor que experimentamos foi o Tourito - é como um licor bem cremoso - e tem vários sabores: côco, amendoim, morango, guanábana, piñon, etc. O rompope (bebida feita com gema de ovo) experimentei involuntariamente num chocolate em forma de bola de futebol - que comprei pros guris. Outra bebida que nos foi oferecida - e não conseguimos apreciar - foi o suco de tomate. Sinceramente, tinha gosto de extrato de tomate.

Experimentei algumas guloseimas bem saborosas, como as balas de goma - bem macias e realmente com o sabor das frutas e umas bolinhas de chocolate envoltas em açúcar, com sabor de menta, vendida sob o nome chocoretas. Não resistimos e trouxemos alguns pacotes na mala.

Agradecemos aos aztecas pelo chocolate, mas devo dizer que os achocolatados, bombons e trufas que temos no Brasil são de melhor qualidade e sabor.

Mas, de tudo, o que mais nos surpreendeu foram os horários e as quantidades das refeições. No início da manhã tem o desayuno, um reforçado café da manhã que consiste em tacos, quesadillas, tostadas, todos bem recheados e acompanhados de carne, frango, linguiça, ovo, etc. Lá pelo meio da manhã tem o almuerzo que é uma refeição intermediária entre a primeira refeição do dia e a comida (que é o nosso almoço). Obviamente que a comida não pode ser antes das 14h. No final de nossa estada, já nos considerávamos mexicanos, pois não conseguíamos comer antes das 16h.

O Lú tentou mostrar seus dotes culinários, preparando sua especialidade: o bolo de cenoura. Colocando no forno, cresceu muito, mas dali a pouco desandou. O aspecto não ficou atraente. O açúcar era cristal e o achocolatado não ajudou. Depois, comentando o acontecido com nosso amigo chef brasileiro Alexandre Marcelino, ele nos deu a "deixa": é a altitude. Dependendo do local que se está, deve-se fazer correção na receita, diminuindo a quantidade de fermento e aumentando a quantidade de ovos. Os críticos não pouparam e a fama do Brasil não se consolidou no México. Vejam a massaroca. No entanto, todos comeram, porém de colher.

No dia do batizado de Iara e Dania, fomos comemorar no restaurante brasileiro que o Alexandre é gerente. E, pasmém, lá descobrimos uma comida que os mexicanos não suportam: coraçãozinho de frango. Inclusive, quando preparam frango em casa, o coração vai direto pra lixeira. Uma heresia!! Prometi pra Daniela (esposa do Jú, meu cunhado) que quando virem a Porto Alegre, faremos um churrasco especial, com muito coraçãozinho (Risos).

Resumo, ao final da viagem, os quilos que os  guris perderam, eu e o Lu ganhamos.

Mara Antonia

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A PRAÇA É NOSSA

Reservamos a quarta-feira, 27, para ficar por Xalapa para conhecer o centro, seus monumentos e praças. Esta foi a estratégia utilizada. Alternar entre um ou dois dias conhecendo as redondezas e um pela cidade para poder descansar das viagens, lavar e secar roupas, conhecer e brincar nos shoppings locais e fazer algumas compras pessoais.

Como já havíamos comentado em outro post, diferentemente da Cidade do México, Xalapa é muito mais acolhedora. Sem falar que não tem aquela pesada cortina de poluíção e muito menos o trânsito intenso do Distrito Federal. Por ser a capital do Estado de Vera Cruz acabamos conhecendo o belo Palácio do Governo, de arquitetura classicamente espanhola, com grandes vão em arcos e pequenas sacadas.

Por força de um repetido pedido do Gian e do Cristian, solicitamos ao meu irmão que nos levasse a uma praça para que eles pudessem andar de balanço, subir em árvores e jogar futebol. A praça nos surpreendeu. Em Porto Alegre, por exemplo, não há uma proposta como esta que reúna tantas atrações num só lugar. Os guris realizaram passeio em pôneis, pintaram personagens com tintas, saltitaram bastante na cama elástica e ainda jogamos futebol na grama. Para fechar a tarde apreciamos o verde do parque sobre as três voltas de um trenzinho. Tá certo que o acabamento da fantasia do Sportacus não era dos melhores (repare no bigode), mas pelo feliz semblante dos guris parece que ele nem se importaram. Por falta de tempo e luz solar, os carrinhos elétricos e as tatuagens infantis ficaram para trás, mas nada que abalasse a nossa satisfação de ter passado uma ótima tarde/noite em família.

Não perca o próximo post que vai tratar sobre a apimentada culinária mexicana.

Grande abraço!!

Luciano Gasparini Morais

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"OVO PODRE, TÁ FEDENDO!"

Na terça, 26, nos deslocamos até Apazapan, uma pequena cidade, que está a 65 km de Xalapa, para usufruirmos da simples, mas agradável estrutura do parque aquático do Carrizal Hotel Spa & Aguas Termales. O clima se apresentava instável. A temperatura beirava os 30º centígrados, mas o céu estava bastante encoberto.

Eu, a Mara e os guris já havíamos estado em três parques semelhantes (Gravatal-SC, Marcelino Ramos-RS e Nova Prata-RS), mas apesar das águas quentes nenhum deles contava com esta nova e interessante circunstância que se apresentava para nós: banhar-se em águas vulcânicas.

Este foi nosso primeiro contato com os trajes de banho. Até então havíamos realizado apenas passeios não aquáticos. E os nossos trajes foram para lá de chamativos. No Brasil passaríamos despercebidos, mas chegamos num país muito recatado em termos de vestimentas de banho. Raras são as mulheres que usam biquini. E nos homens, a sunga de banho mais curta que presenciei foi uma bermuda na altura dos joelhos. Portanto, imaginem como os mexicanos nos viram: quatro branquelas "pelados" circulando entre uma piscina e outra. 


O Parque conta com uma grande piscina feita em concreto, toda cheia de curvas, toboágua na forma de dinossauro, chafarizes, travessia sobre cordas e mais outras três piscinas retangulares para crianças e adultos. Porém, a grande sensação está na piscina natural que fica próxima ao movimentado Rio Actopan. Ali estão represadas as águas vulcânicas. Em determinada parte alcança três metros de profundidade e a água é tão quente que fica quase impossível deixar o rosto submerso.

Sabidamente, as águas termais têm grande poder terapêutico. Trazem melhoras para as articulações, vias respiratórias, circulação, entre outros benefícios para a saúde. Por isso, uma forte presença da terceira idade.

É, também, um ambiente legal para toda criança que gosta de brincar com barro e água. Ali estavam as duas matérias-primas num só lugar. O Gian e o Cris puderam se deliciar com a mistura do solo barrento e escuro com a água quente.

As sobrinhas que parecem ter estranhado um pouco. Calma, não as submetemos às águas ferventes. Há outras piscinas com águas mais morninhas. Foi a primeira vez que ambas puderam tomar um banhinho de piscina. Porém, visivelmente estranharam, pois abriram o berreiro ao sentirem o corpo submergindo pouco a pouco na água. Mas, nada que um colinho de pai e mãe somados a uma mamadeira quentinha não resolvesse.

Voltando às águas sulfurosas. Antes de pôr os pés de molho na água é bom se exercitar psicologicamente, pois o fortíssimo cheiro de enxofre e a presença das crianças na volta, dá a nítida impressão de estarmos brincando de "ovo podre". Portanto, num lugar de piso barrento, água escura e forte cheiro de enxofre é melhor deixar a frescura de lado e se divertir junto às ofertas da natureza. Vale a pena!

Foi mais um dia maravilhoso para o nosso repertório de belos passeios em território mexicano.

Em breve, cenas dos próximos capítulos...

Grande abraço!

Luciano Gasparini Morais.