quinta-feira, 29 de julho de 2010

TRANSPORTE CAÓTICO

Cidade do México
Pessoal, na Cidade do México, todas as circunstâncias que me impressionaram negativamente estiveram relacionadas ao trânsito. O transporte coletivo é de dar medo. A precariedade dos veículos beira o absurdo.

E não pensem que estou exagerando ou que é exceção. TODOS os veículos do transporte público (táxis dourados com vinho e os micro ônibus verdes) que olhei tinham avarias dos mais diversos tipos: falta do parachoque, vidro quebrado, ou ainda sem vidro e protegido com plástico, lataria amassada, reparos com aparente massa plástica, cordas segurando os espelhos laterais, sinaleiras quebradas, pneus carecas, sem falar que a frota é extremamente velha. Como podemos verificar na foto ao lado, vários táxis fuscas ainda circulam pela cidade. Só para lembrar, não estou falando de veículos particulares, o que já seria um absurdo, mas pior, me refiro ao transporte coletivo, responsável por movimentar uma das cidades mais populosas do mundo.

Não presenciamos congestionamentos, com certeza por estarem no período de férias escolares. A propósito, mesmo no período de férias, há cursos de verão, onde as crianças vão ao colégio para praticar atividades mais lúdicas. E o transporte dos estudantes é feito com aqueles ônibus que vimos nos filmes norte-americanos. E não são réplicas, são os próprios, doados pelo país vizinho a cada vez que renovam a sua frota.

E toda esta precariedade tem uma clara causa: a corrupção. Isto mesmo, a corrupção. Quem deveria ser exemplar para coibir os excessos é a primeira a se corromper. A polícia mexicana é extremamente corrupta. E não estou falando porque me falaram, mas por termos vivido na pele. Na quarta-feira, 21, meu irmão se deslocava para nos buscarmos na casa do doutor Bravo, quando foi interceptado numa blitze. Assim como São Paulo, a Cidade do México tem um sistema de rodízio para aliviar o trânsito. Uma vez por semana, um carro com determinado final de placa não pode trafegar. Por desconhecimento, o meu irmão não sabia que não podia circular naquele dia, pois ele é do Estado de Vera Cruz, que não tem este sistema.

Até aí tudo bem, o meu irmão estava infringindo a lei e deveria ser mesmo notificado. Porém, a polícia não aplica a multa, antes de qualquer coisa os policiais já vão pedindo um derterminado valor. Eles não esperam nem mesmo o suborno ocorrer, sem cerimônias já assaltam os condutores infratores. No caso, para começar a negociação fixaram a importância de três mil pesos (cerca de 400 reais). E eles ainda ameaçam dizendo que vão recolher a habilitação e que vão apreender o veículo. Final da história, nos liberaram mediante o pagamento de mil pesos mexicanos (em torno de 150 reais).

No dia seguinte, novamente uma blitze. E mais uma vez tivemos que pagar mil pesos. Desta vez por que o veículo estava sem um selo de verificação exigido a cada seis meses, um controle ambiental por causa das descargas  de gases na atmosfera. Mais uma vez o meu irmão desconhecia a lei e mais uma vez deveria ser multado, mas foi coagido a pagar a quantia exigida. O impressionate é ver o contraste de veículos circulando pela cidade caindo os pedaços,  pingando óleo pela pista e o meu irmão com um veículo 2008 notificado por não ter um selo ambiental no vidro do carro.

E isto acontece aos montes. Diariamente se observa blitzes. Se fosse para melhorar o sistema de trânsito tudo bem, mas a verdade é que já param os motoristas com a intenção de extorqui-los. Um amigo mexicano nos disse, inclusive, que hierarquias superiores exigem que, ao final do dia, os policiais retornem com uma determinada arrecadação. E os alvos principais são os veículos de estados estrangeiros, vulneráveis ao desconhecimento da lei.

E o transporte público está precário desta forma visivelmente pelo suborno. Eles são aferidos, deveriam ser proibidos de circular, mas pagam uma determinada quantia e seguem trafegando vergonhasamente pelas ruas da Cidade do México. O resultado disso é o oferecimento precaríssimo do serviço de transporte público, a insegurança no trânsito e altas taxas de monóxido de carbono no ar. Ainda bem que há o metrô, que salva um pouco. Em comparação a São Paulo o sistema metroviário é três vezes maior, são cinco linhas paulistanas contra 15 da Cidade do México. Uma pena que o transporte rodoviário seja assim, o povo mexicano é tão simpático com os brasileiros, com exceção da polícia, é claro.

Xalapa  

Xalapa Enriquéz (se pronuncia Ralapa), onde mora meu irmão, está distante 315 km da Cidade do México e fica no estado de Vera Cruz. É uma localidade bastante acolhedora. Antes de falar do transporte de Xalapa quero apenas comentar que aqui no México também tem muitos pedágios, o que eles chamam de "caceta". No deslocamento entre uma cidade e outra passamos por vários deles. O valor do pedágio gira em torno de 40 pesos mexicanos (cerca de seis reais). 

O transporte público de  Xalapa é consideravelmente melhor do que o da Cidade do México. Ainda que não sejam um exemplo de modernidade, os ônibus de Xalapa circulam em melhores condições. E fiquei impressionado com a quantidade de táxis que tem por aqui. Parecia-me gigantescamente desproporcional com a quantidade de passageiros. É uma cidade que tem cerca de 400 mil habitantes, mas para todo lado que se olha vemos sempre mais de um táxi circulando. Não me contive, fui perguntar a um taxista: "Señor, permisón. Soy brasileño y estoy con una curiosidad turística. Cuántos táxis hay en Xalapa?"
- "Sieis mil", respondeu ele.

Para se ter uma ideia, Porto Alegre tem cerca de dois milhões de habitantes e 4,5 mil táxis, ou seja, uma média de um táxi para cada 445 habitantes. Usei da mesma razão para verificar proporção em Xalapa. Seis mil táxis para 400 mil habitantes. Isso dá uma média de um táxi para cada 67 habitantes.  

Há mais duas curiosidades para se ressaltar no trânsito de Xalapa. A primeira é que aqui são as mulheres que fiscalizam o trânsito. Normalmente andam em duplas. São servidoras públicas e por vezes estão acompanhadas de militares, porém também mulheres, como podemos verificar neste vídeo. Prestem atenção no trilar do apito, parece aqueles infantis que a bolinha trepida no seu interior. No vídeo também dá para observar a quantidade de táxis que trafega.

A segunda curiosidade é o posto de vendas da rodoviária de Xalapa. Funciona no sistema "drive thru". É como no Mc Donald's, porém invés de você retirar um Mc Lanche Feliz, você retira um bilhete de passagem (risos). Portanto, o motorista passa primeiro por um terminal, onde através de um comunicador conversa com a atendente e solicita a passagem. Os dados são conferidos da tela de um computador e depois do aceite do comprador, basta esperar a fila de carro andar e pegar o documento no guichê de saída. Achei ótimo. Muito mais prático e cômodo do que ter que encontrar estacionamento (ou se constranger com a presença de "flanelinhas"), se deslocar, ficar em pé nas filas, entre outras complicações. 

Quando chegarmos a Porto Alegre vamos mandar este post para a rodoviária. Quem sabe eles adotam este sistema para a Copa de 2014.

Ainda bem que mudamos de cidade e o transporte mudou radicalmente.  Se não houvesse alteração teríamos que fazer como os meninos, encontrar um transporte alternativo, certamente mais seguro, mais barato, menos corrupto e menos poluente.

Luciano Gasparini

3 comentários:

  1. E NÃO ESQUECE MINHA PIMENTA

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  2. Quer dizer que tu saiste de POA para passar na "CACETA" no México....rsssssss
    Abraços

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