sexta-feira, 29 de outubro de 2010

RUMO AO CASTELO, MAS NUM TRANSPORTE PLEBEU

Antes de ingressarmos numa das últimas publicações desta nossa inesquecível viagem à terra dos aztecas, gostaríamos de nos desculparmos pela ausência de textos neste periodo todo. As férias acabam, a rotina volta ao normal, as atividades corriqueiras nos "engolem" e tudo que está fora dela fica para depois.

Para enfim honrar o compromisso, volto ao teclado com o propósito de em poucos dias concluir esta missão que começou lá no dia 17 de julho, com o primeiro texto.

E este não era dos piores microonibus
No último dia na capital mexicana fomos conhecer o Castelo de Chapultepec, um requintado palácio por onde passaram os principais reis do império mexicano. Como o meu irmão estava sem carro, fomos de microonibus. Lembram dos primeiros posts onde falei do caos do transporte público? Pois é, pior do que ver os coletivos caindo os pedaços é estar dentro deles e sentí-los nesta condição. Não basta ver ou saber do problema, é preciso vivê-lo. Uma verdadeira ação de antropólogo, ou seja, viver o contexto para opinar com mais propriedade. E isso nós fizemos.

Impressionante! Os problemas que vimos antes, trafegando de carro, se confirmaram. Mais do que isso, se agravaram. Levamos quase uma hora e vinte minutos para trafegar de um destino ao outro. Isso que não fomos de ponta a ponta da cidade. Longe disso, os extremos ainda estavam distantes. Viajamos sempre em alta velocidade. As manobras arriscadas são comuns, pois os motoristas têm tempo a vencer e passageiros a arrecadar. Se ainda estivéssemos de cinto de segurança, vá lá, mas que nada, este é um artigo de luxo no transporte coletivo da Cidade do México. Para piorar, os assentos não são perfilados, cujo o banco da frente poderia servir de apoio ou parapeito numa colisão ou  freada desavisada.


Sentam quatro passageiros neste assento

Imagine uma Kombi sem bancos. Depois, coloque-os nesta mesma Kombi encostados no perímetro interno do veículo. São quatro bancos, de três lugares cada, encostados sobre os lados internos do coletivo. Você escolhe, pode viajar de frente, de lado ou de costas. Retificando: não dá muito para escolher, tem que sentar onde dá. E engano seu se chegou a pensar que depois dos 12 lugares ocupados param de entrar passageiros. Eles vão entrando e você tem que dar o ladinho, abrindo espaço no assento. O apoio se dá em cada freada, arrancada ou ultrapassagem, e é feita no companheiro ao lado. Não se preocupem, apesar do aperto é possível respirar, pois há vários vidros quebrados por onde puxamos o pouco do oxigênio que circula. 

Depois que o passageiro desce, o motorista fecha a porta de correr puxando-a por uma corda, como nos velhos tempos porto-alegrenses nos táxis fuscas sem o banco da frente, lembram?

A curiosidade maior fica por conta da cobrança da tarifa. Como a Cidade do México é muito grande, não é justo cobrar o mesmo valor para todos os passageiros. Portanto, o valor da passagem é fixado de acordo com o bairro no qual você sobe no coletivo. E não pensem que tem um ticket que indique isso. É tudo na palavra. O passageiro grita que quer descer e na sequencia avisa mais alto ainda de que bairro veio. Legal, uma forma de mostrar que se acredita nas pessoas.

Observem minha fisionomia de satisfeito com a situação
Mais honesto ainda é ver o passageiro que está bem atrás dar o dinheiro para o passageiro do lado, que vai passando para o seguinte e assim por diante, até chegar ao motorista. O condutor recebe o dinheiro e se houver troco manda-o de volta percorrendo todo o trajeto inverso. Pior que constatamos que funciona bem. A Mara fez um comentário: "agora sei por que a Gripe A se propagou tanto no México". E o meu irmão ficou imaginando a mesma situação no Brasil, onde você alcança o dinheiro para o passageiro ao lado, ele desce na parada seguinte e leva o seu dinheiro embora.

É, culturas e culturas. Seria cômico se não fosse trágico. Verificamos uma condição subumana, sem higiene e a mínima segurança.  Muito triste isso. Estávamos indo conhecer um lugar da nobreza mexicana dentro de um transporte público caótico. Ficou nítido que o país involuiu economicamente. O contraste mostra a fragilidade social em que o país está envolto. E lamentável observar que já virou algo normal entre os mexicanos. Enquanto fizemos este percurso tomados pela tensão, muitos estavam tranquilos. Alguns inclusive ouvindo música, com os fones de ouvidos certamente levando-os para outro mundo, sonhando com dias melhores. Mas como chegamos são e salvos, valeu a pena ver por dentro, com os nossos próprios olhos, o que já havíamos visto por fora. E pensar que há países piores.

Breve, muito breve, a visita ao Castelo de Chapultepec.

Grande abraço!

Luciano Gasparini Morais

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